segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Presente...

     O gosto amargo invadiu minha garganta e o ar já não entrava em meu pulmão. Por dentro, eu estava fervendo, enquanto minha pele congelava. O vento estava me cortando...
    A noite estava diferente das outras. Tinha alguma coisa errada no vento, como se alguma tragédia estivesse por vir. As árvores balançavam, como se quisessem me contar uma história. Uma história nem um pouco feliz.
   Mesmo assim continuei andando, com a lua iluminando meus passos. O medo me fazia companhia e as estrelas eram como pequenas gotas de lágrimas. Minúsculas gotas, acompanhadas pela morte e pela escuridão.
   Fui tola. Ingênua. Como toda mulher apaixonada. Não sabia o que estava fazendo, pois a paixão me cegou e me tirou o bom senso. Continuei caminhando, com meus sonhos românticos. Sonhos que logo se tornariam pesadelos.
   Parei no local combinado, com o coração quase saindo pela boca. Poderia dançar ao ritmo de suas batidas, se eu não estivesse com tanto medo. Batidas rápidas, agonizantes. Batidas que bombeavam meu sangue amargo e envenenado pela morte. Ainda consigo sentir seu gosto...
  Então eu vi. No meio da névoa, vi uma sombra se aproximando. Será que era ele? Será que ele cumpriria com sua promessa? Ele me faria feliz como havia dito que o faria? Não conseguia entender porque a angústia ainda estava martelando dentro do meu peito.
  Uma mistura de alegria e pânico tomou conta de mim. Meu amado se aproximou, mas não trazia flores em sua mão. Ele se aproximou não com um sorriso apaixonada, mas com um olhar sombrio e cruel. Senti o mal em seus olhos, tão frios e expressivos. Sua boca estava encurvada, num leve sorriso sarcástico.
  Onde estava o homem que conheci? Onde estava aquele homem belo e doce, que me cobria de presentes e juras de amor?
  Ah, os presentes. Eram lindos! Flores, vestidos, cartas apaixonadas...
  Mas ele me trouxe um presente diferente naquela noite. Um presente frio e cortante. Frio como aquela noite. E cortante como o medo que sufocava meu coração. Aliás, coração que já não bate mais.
 A dor era insuportável. Senti aquela coisa fria dentro de mim, me sangrando e machucando a minha carne. Então, tudo ficou escuro. O frio tomou meu corpo...
  Ele me presenteara com a morte.





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