quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Relógio.

   Competir com o relógio não é muito bom. Sei por experiência própria. Sempre fico me torturando antes do tempo, sofrendo por coisas que nem aconteceram ainda. Me torturo por coisas incertas, que só o tempo pode realizar.
  O relógio sempre foi um monstro para mim. Ele corre, voa, e nunca conseguimos alcançá-lo. Nos faz esperar, correr, depende apenas da vontade dele. Nos faz sofrer por muito tempo, e apreciar as coisas boas por apenas alguns segundos.
   Demorei para aprender que não posso controlar o que as pessoas sentem. Mal posso controlar o que eu sinto...
   Ainda não sou muito amiga do relógio, mas estou tentando compreendê-lo. Hoje entendo que ele não faz por mal, é o trabalho dele. Ele tem que seguir seu ritmo, e eu tenho que respeitar. Não adianta tentar descobrir o futuro, ou me culpar.
  Só agora percebi que estou perdendo meu presente pensando no futuro.
  É claro, isso não significa que devemos esperar nossos sonhos caírem do céu. Mas certas coisas só o tempo pode explicar, só ele pode fazer. Então, pra que ficar sofrendo?
  O tempo voa, e eu ando com os pés firmes no chão. Só me resta deixá-lo trabalhando em paz.







terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Era uma vez.








" Era uma vez, mas me lembro como se fosse agora, eu queria ser trapezista.
   Minha paixão era o trapézio, me atirar lá do alto na certeza de que alguém segura minhas mãos, não me deixando cair.
   Era lindo, mas eu morria de medo. Tinha medo de tudo quase, cinema, parque de diversão, de circo, ciganos, aquela gente encantada que chegava e seguia. Era disso que eu tinha medo, do que não ficava para sempre.
   Era outra vez, outro circo, ciganos e patinadores. O circo chegou à cidade, era uma tarde de sonhos e eu corri até lá.
   Os artistas, eles se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo, eu entrei no meio deles e disse que queria ser trapezista.
   Veio falar comigo uma moça que era a domadora, era uma moça bonita, forte, era uma moçona mesmo. Ela me olhou, riu um pouco, disse que era muito difícil, mas que nada era impossível.
   Depois veio o palhaço Poli, veio o Topz, veio o Diverlangue que parecia um príncipe, o dono do circo, as crianças, o público.
  De repente, apareceu uma luz lá no alto e todo mundo ficou olhando.
  A lona do circo tinha sumido e o que eu via era a estrela Dalva no céu aberto.
  Quando eu cansei de ficar olhando para o alto e fui olhar para as pessoas, só aí eu vi que estava sozinha."




Antônio Bivar

Alguém nos salve!

   Por favor, alguém me salve. Alguém salve nossas almas. Alguém salve nossos corpos, sujos pela hipocrisia que assola nossas casas. Nossas ruas estão infectadas, nossas almas estão cheias de fumaça.
  Alguém, por favor!
  Lutamos pela democracia, mas torturamos e aprisionamos todos aqueles que são diferentes. Somos prisioneiros da liberdade, que defende apenas aqueles que pensam como ela.
  Onde está essa liberdade? Não a vejo em lugar nenhum. Não podemos mais sair pelas ruas livremente, não podemos ser diferentes. Se somos, logo a sociedade dá um jeito de nos excluir.
  Somos prisioneiros de nós mesmos, e acredite, é bem pior do que viver em uma cela. Vivemos presos em boas maneiras, sempre preocupados com o que as pessoas vão pensar sobre nossas atitudes.
  Me cansei disso tudo.






segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Depois da tempestade...

   Acabou. E não estou triste... muito pelo contrário. Estou me sentindo bem, em paz. Tudo isso serviu para me fortalecer. Hoje, me sinto invencível.
   Mas confesso que tanta paz às vezes me assusta um pouco. Eu, que estou acostumado com uma vida sem regras, barulhenta, me assusto quando ouço o silêncio. Parece que a vida que era minha não existe mais.
  Deve ser por que aquele homem morreu. Aquele que estava preso, amarrado, amordaçado, hoje se encontra livre e em paz. Aquele homem se foi para dar espaço para meu novo eu. Você não deve estar entendendo nada, mas eu também não entendo. Só sinto...
  Como todos dizem, depois da tempestade sempre vem a calmaria. Ela acolhe nossos corpos cansados, arrebentados pela chuva forte e impiedosa. Vem o vento calmo, para aliviar nossas cicatrizes.
  Agora consigo ver. A neblina se foi e livrou meus olhos. Aquilo que tanto me assombrava, hoje já não me assusta mais. O que antes era uma muralha, hoje não passa de um pequeno obstáculo. Só agora vejo como fui fraco!
  Mas isso já não importa mais. Agora posso ver, e nada pode tirar isso de mim.
  Nada vai me abalar outra vez!







quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Disfarce.

   Nem sempre podemos falar o que sentimos. Às vezes, precisamos usar disfarces, fantasias, para fingir que está tudo bem e tocar a vida pra frente. Não queria que fosse assim, mas infelizmente tem que ser assim.
  Mesmo estando aos cacos por dentro, forço um sorriso e o coloco no meu rosto. Forço um olhar alegre para ninguém perceber a minha fraqueza. Dou risadas, quando na verdade eu queria mesmo era gritar de ódio e tristeza.
  Não é fácil, mas é necessário. Devemos vestir disfarces para ocultar nossas fraquezas. Ninguém gosta de pessoas fracas. Devemos pelo menos fingir que somos fortes e felizes, pois assim tocamos a vida pra frente.
  




quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Tristeza.

  Por alguma razão, a tristeza continua na minha casa. Ela chegou, se instalou e não quer mais ir embora. Talvez ela tenha visto em mim uma boa companhia.
  Todas as tardes, ela me conta suas histórias. Histórias de corações partidos e finais infelizes, me trazendo mais lágrimas. Tardes carregadas de angustia, dor e lágrimas. Mas mesmo assim, gosto de ouvir suas palavras.
  Acho que é por isso que ela não sai da minha casa. Ela encontrou em mim uma boa companhia. Alguém que escuta o que ela tem a dizer. Sou a única que acolhe a tristeza como uma amiga.
  Hoje ela me contou coisas sobre mim. Coisas que causaram dor. Mas mesmo assim, gostei de ouvi-la. Ela me conhece melhor que ninguém! Sabe me amedrontar...
  Ela não quer ir embora. Mas eu também não quero que ela vá. Quero alguém para conversar comigo. Para me fazer companhia. Mesmo que esse alguém seja a tristeza, que só me conta histórias de corações partidos e finais infelizes.